Fogos Sagrados de Hécate 2017

(Este texto se refere à noite de lua cheia em Escorpião, data mundial dedicada aos Fogos Sagrados de Hécate, que nosso Conclave teve a honra de celebrar em ritual aberto.)

Por Talita de Souza **

“Hoje ainda, se algum homem sobre a terra com belos sacrifícios conforme os ritos propicia e invoca Hécate, muita honra o acompanha facilmente, a quem a Deusa propensa acolhe a prece; e torna-o opulento, porque ela tem força.” (Hesíodo, Teogonia).

 IMG-20170511-WA0029Este texto demorou para ser elaborado, assim como todas as percepções pós ritual dentro de mim.

Quando comecei a escrevê-lo, não sabia muito bem por onde começar porém logo me veio à memória a primeira vela acendida e um amor que me inunda até hoje.

Deusa primordial, suas origens são desconhecidas, mas com certeza, é uma Deusa tão antiga quanto o mundo. Tem parte do Céu, do Mar e da Terra.

Ligada à Lua Nova e à Lua Escura, às encruzilhadas, tem poder sobre os momentos liminares de nova vida. Rege as mudanças da existência, opera nos lugares onde a água e terra se mesclam. Tem como principais símbolos os cães, as chaves, a encruzilhada e a tocha.

Conhecida por muitos epítetos, é a Guia que ilumina o caminho do Tártaro com suas tochas, é Senhora que abre e fecha caminhos com suas chaves, a de cabeça luminosa que, com sua carruagem, ilumina a escuridão e dá alento às almas perdidas em seu caminho.

Deusa Generosa, Salvadora, Padroeira, que rege a fertilidade e é capaz de dar o que lhe for pedido. 

Embora representada por três deusas, ligadas às três faces da Grande Mãe- Donzela, Mãe e Anciã – há quem a veja como uma dama sem idade definida, por estar acima dos efeitos do tempo. Há quem a veja como uma senhora, a Velha. Também conhecida como Rainha da Bruxas, é Matrona da magia, pois muitos brux@s à ela pedem proteção e poder.

 Minha história com Hécate começou há 14 anos. Durante minha adolescência eu mergulhei nos estudos de magia e bruxaria. Aos poucos fui descobrindo sobre a possibilidade de sermos regidos por Deuses e fui cada vez mais estudando sobre eles e vivenciando suas manifestações.

De verdade, só me recordo de abrir um livro e ver que, naquela data de 16 de novembro, rezava-se para Hécate, podendo-se acender uma vela preta ou qualquer vela escura, pedindo iluminação e mudanças de vida. Fui conferir e só tinha uma pequena vela verde escura e lá fui eu…lembro -me de dizer as seguintes palavras: “Abra os caminhos que julgar necessário abrir e feche os caminhos que julgar necessário fechar”. Três dias depois estava sendo entrevistada para minha primeira vaga de estágio, esta que um ano depois, se tornou meu primeiro trabalho registrado.

Naquele dia ela me ouviu e naquele dia, pela primeira vez, deixei conscientemente minha vida na mão de um Deus numa confiança e amor profundo. E desde então assim tem sido.

Mesmo dura e implacável – sim ela também o é – e por mais mudanças difíceis que tenha passado, nenhuma aconteceu a mim sem antes ela avisar, me preparar e mostrar que eu não estaria sozinha.

Meus ritos sempre foram solitários e minhas ofertas honestas e sempre aceitas. Por mais que tenha me afastado dos estudos mágicos durante certo tempo, minha devoção à ela sempre se manteve fiel.

Ao retornar à formação mágica através do Conclave, minha relação com Hécate começou a ganhar contornos mais cerimoniais. Passei a me aprofundar em suas histórias e ritos, seu altar ganhou novas dimensões físicas e ofertas mais robustas.

Dentre todas as atividades do Conclave, no início de maio iniciamos então a preparação do ritual de Fogos Sagrados e, a convite de Petrucia, ficaria de preparar um texto explicando quem era essa Deusa, foi numa tarde em sua casa, com nosso pequeno grupo, enquanto preparávamos os amuletos do ritual, lapidávamos sua estrutura, separávamos os instrumentos.

Demorei mais alguns dias e, numa segunda à noite, sentei à frente de seu altar, me coloquei à sua disposição e pedi que me mostrasse como gostaria de ser vista em sua noite.

Lembro-me apenas de vagos momentos nesse plano, pois fiquei vários minutos em sua companhia, visitando lugares sagrados, sentindo suas diversas manifestações.

Após essa viagem, me recordo apenas de minhas mãos inquietas, necessitando de caneta e quando passei a escrever, eram movimentos automáticos, eu não as dominava mais.

Então naquele momento, eu soube que poderia escolher qualquer palavra para descrevê-la, mas seriam as suas palavras que deveriam ser ouvidas.

 

O ritual.

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Tochas acesas, introdução feita. Caminhamos até o guardião, nos limpamos e nos colocamos em volta do fogo. Honramos os elementos e cada vez mais a energia em volta se tornava densa, forte e sua presença em volta de nós podia ser sentida. Naquela noite eu a vi como senhora das correntes, vestida de negro, olhando sobre todos nós, sentindo nossas intenções. Em certo momento minhas mãos cresceram de tamanho, e me vi ligada por essas correntes. Nossos ancestrais presentes, purificados. O espaço-tempo já era outro, desde quando começamos a entoar nossos diversos cantos. E desta forma permaneceu até os Sagrados Ritos terminarem. Naquela noite acordamos a terra, a Deusa nos ouviu e iluminou o caminho dentro de nós para o tempo escuro que se iniciava.

E como qualquer bom trabalho mágico realizado, a magia tem início dentro de nós.

Os Ritos dos Fogos Sagrados são, para mim, acima de tudo, acordar nossos fogos internos que iluminam nosso caminho interno. Pode-se falar sobre Hécate a partir de diversos epítetos, dar-lhes diversos atributos, mas trilhar o caminho dessa Deusa é trilhar sua própria escuridão e entender que o Fogo Sagrado que acordamos na terra naquela noite, permanece em nós e cabe a cada um mantê-lo acesso e percorrer nosso caminho de evolução.

 

Prece intuída

 

Sou o Caos

O mundo acima e abaixo

A terra que move aos seus pés

Sou a cor e a fúria

branco e negro

O caos que move o mundo

Sou a Rainha de tudo

Hécate me leva em sua carroça, Ela corta a escuridão, abre a luz com sua tocha

Ela é piedosa com os espíritos perdidos

Já foi Donzela, Mãe e Anciã antes do mundo existir

As partículas contidas no breu do mundo foram as serventes da criação

E se deu a Luz.

“E eu continuarei a reinar acima do mundo”

Sou velha, filha, sábia

Aquilo que vos é indiferente, aquilo que vos é estranho

É nesse des-conhecimento que eu moro.

Naquilo que não tem palavras

Na ante-criação

Onde mora o amor, a compaixão

Onde oferto o seio ao filho que chora

Abro os caminhos do destino com minhas chaves

Desenterro o Mal e o exponho à Luz. E assim o queimo com minha tocha

Mas sou implacável quando se perde a Ordem.

 

**Talita de Souza é terapeuta, bruxa, filha de Hécate e Odin e apaixonada por dança flamenca. Já passou pelo caminho da Bruxaria Natural e, em 2016, oficializou sua caminhada pela Bruxaria Tradicional através do Conclave da Rosa e do Espinho.

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