***por Petrucia Finkler
Embora muitos bruxos tenham ouvido falar nos quatro pilares da bruxaria, Saber, Querer, Ousar e Calar, pouco se escreve sobre o assunto e menos ainda se vê sobre esses preceitos sendo colocados na forma da Pirâmide dos Bruxos, que tem algumas leves variações em relação a esses conceitos. O melhor texto que conheço é do clássico, Mastering Witchcraft, de Paul Huson, cuja tradução partilho com os participantes da formação mágica do Conclave. Mesmo assim, tenho alguns senões em relação ao texto do Huson, na verdade mais na parte do Silêncio, que vejo de forma distinta.
Quando passei por meu treinamento formal com meu professor americano, me foi exigido que eu confeccionasse um modelo funcional da pirâmide dos bruxos e escrevesse um documento defendendo o que eu entendia daquilo tudo.
Para complementar a explicação clássica, portanto, segue a minha visão sobre essa pirâmide que é a base de toda nossa prática mágica e cujos componentes somados nos levam à excelência.
Significado da pirâmide dos bruxos
A pirâmide dos bruxos é um lembrete e um catalizador, fala das condições indispensáveis que ajudam alguém a alcançar o conhecimento e o poder dos magos. Ela é como um sistema fechado: se um dos lados está defeituoso ou falhando, a energia vaza e a magia se torna menos eficiente.
Cada uma das paredes também forma um triângulo, indicando o princípio por trás da manifestação mágica enraizada no número três. Segundo a metafísica, para poder manifestar algo, três componentes devem estar presentes: tempo, espaço e energia. Ao empregar os princípios de cada uma das laterais das paredes da pirâmide, baseada no conhecimento e apoiada no amor, a energia mágica começa a condensar.
A base da pirâmide – O Conhecimento
A base da pirâmide, bem como de toda prática mágica é o Conhecimento. No meu entender, o conhecimento pode vir de muitas fontes diferentes. Pode ser entendido como inteligência que é iluminada pelo estudo e absorvida dos livros, mas também pode vir de professores talentosos, da natureza e das nossas próprias práticas. Porém a primeira fonte de conhecimento com que devemos nos ocupar é a do Conhece-te a ti mesmo. A compreensão de nossas motivações, intenções, talentos, fraquezas e a forma como todos esses ingredientes afetam nossos pensamentos, comportamento e reações, além de nosso meio, é a base de um trabalho mágico bom e sólido. E isso exige uma espécie de força, alguém capaz de se abrir para examinar a sua verdade nua e crua, e aí mora a primeira força da sua pirâmide.
O Interior da pirâmide – O Amor
O Amor é a cola de tudo no nosso universo. É a vibração e o ponto a partir do qual queremos agir e aprender. Deixar de lado emoções negativas (ódio, avareza, vingança, medo, competição, inveja…) não é fácil, mas as paredes de nossa pirâmide são apoiadas nessa estrutura interna de amor, generosidade, compaixão, respeito, apreço. O interior funciona tanto como um recheio quanto um apoio para as paredes. O amor nos conecta à fonte da criação, a fonte de tudo, e, assim, deve estar presente para ser vivido e usado aumentando o poder e qualidade de nossa magia.
As quatro paredes:
Pense na Pirâmide dos Bruxos como tendo quatro paredes. Cada uma delas corresponde a um princípio. Unidas, geram energia e poder que se afunila em um único ponto preciso, a soma de tudo e de onde o resultado é projetado no cosmos. Os quatro lados da Imaginação, Vontade, Fé e Segredo são por vezes mencionados como “Saber”, “Querer”, “Ousar” e “Calar”.
Imaginação
A imaginação é nosso poder nato de conjurar em nossas mentes qualquer cena que desejarmos. Pode ser em um sonho acordado, fantasias e devaneios, ou na forma de exercícios criativos ou artísticos. No entanto, porque tudo aquilo que criamos ou produzimos como humanos neste plano material precisa primeiro existir no plano de nossas mentes na forma de uma imagem (ninguém assa um bolo sem imaginá-lo antes, cria uma cadeira sem visualizar seu formato) e porque nosso cérebro não sabe diferenciar entre o que vemos com os olhos físicos ou o que vemos dentro de nossas mentes, esse é um poder dos mais interessantes. A Imaginação como ferramenta deve ser valorizada e desenvolvida. Por conceber imagens na mente, está ligada ao elemento Ar e aos planetas Mercúrio e Urano.
Uma imagem bem concebida pode evocar emoções fortes que ajudam a dar vida e movimento à nossa magia. Habilidades potentes de imaginação e visualização podem ajudar em nossa jornada aos outros mundos e ao contatar entidades de outros planos. Ao aceitar o poder de nossa imaginação e encorajá-lo, nos disponibilizamos para as experiências espirituais nos capacitando a visualizar e acessar coisas que nunca vimos e lugares que jamais visitamos.
Na feitiçaria usamos muitoa a visualização criativa, é importante enxergar com total clareza e vivenciar o resultado desejado nos mínimos detalhes, envolvendo todos os nossos sentidos – e isso pode ser alcançado através da capacidade de imaginação.
Einstein dizia: “A imaginação é mais importante que o conhecimento.”. Nas palavras de George Bernard Shaw: “Você vê coisas e se pergunta ‘Por quê?’. Já eu sonho coisas que não existem e digo, ‘Por que não?”.
Vontade
Uma vontade férrea é necessária para moldar a realidade. A vontade aqui fala de tomar uma decisão relativa a um desejo que queremos manifestar. É por isso que é tão importante saber o que de fato queremos, no cerne do nosso ser.
Aleister Crowley dizia que a Verdadeira Vontade é um dos pontos cruciais que um mago deve saber, já que a Vontade Verdadeira é a base do ser. “Amor é a lei, Amor sob Vontade”, não é mesmo? A Vontade Verdadeira é a quintessência do ser. Como é movida por autopreservação, é a parte que mais provavelmente reflete o que a pessoa de fato quer e precisa.
Apenas saber o que desejamos e imaginar o resultado final não basta. Precisamos ter a vontade de tomar a decisão firme de colocar a magia em movimento, de direcionar nossas forças, de iniciar a mudança de consciência que possibilita alterar a realidade.
Para efetuar essa mudança na realidade, precisamos ter uma vontade inabalável, que não permite que nenhum pensamento conflitante interfira com nosso desejo imperturbável, e focar em nosso objetivo: uma Vontade inquebrável. Por conta dessas características, se relaciona ao elemento Fogo e aos planetas Marte e Sol.
Ao exercermos nossa Vontade e moldar a realidade (e a nós mesmos) comungamos com os Deuses, tornamo-nos criadores. E criar envolve responsabilidade. Quanto mais forte e mais treinada essa Vontade, mais precisamos atentar ao que pensamos; definitivamente não podemos chamar de volta ou revogar qualquer coisa que a gente liberte no mundo. Saber quando aplicar essa vontade é parte de nossa responsabilidade.
Fé
Este princípio fala da confiança em si e no mistério, no desconhecido. Fé quer dizer sentir que não estamos sós, mas somos apoiados pelo universo e ousamos acreditar na força de nosso poder. sem essa profunda crença em nós mesmos, em nossas habilidades, em nossa experiência, nossos sonhos e a disposição de penetrar nos mistérios, nossa magia é inútil, porque sem esse ingrediente intrépido, não vamos jamais nos jogar no desconhecido. Como diria meu amado professor, Amatheon: “A magia nunca é segura”.
Essa abertura e confiança têm relação com o elemento água e os planetas Júpiter e Netuno.
Segredo
Um mago ou bruxo não deve tagarelar ou contar vantagem sobre sua vertente, suas práticas, conquistas e sucessos. O maior poder reside no silêncio, e quanto mais o silêncio for respeitado, mais ela/ele vai adiante em seu caminho.
Este princípio não se restringe a não comentar sobre os feitiços que você está operando ou criando porque poderia dissipar seu poder, mas funciona como uma diretriz de disciplina. Não precisamos exibir nossos poderes ou fazer alarde sobre nosso estilo de vida (nossas roupas, adereços, ferramentas, altares, celebrações, rituais, práticas, etc etc etc) – isso pode nos enfraquecer! Se abrirmos muito espaço para o ego, podemos ser desligados de nossa fonte de poder, então essa reserva deve ser entendida como prudência, algo que nada pode corromper ou envenenar. Também o mistério desperta a curiosidade, aumenta a imaginação, confere sacralidade a tudo que fazemos e nos dá mais controle. É o mistério que reforça nosso magnetismo também, essa qualidade elusiva que atrai para nosso círculo as pessoas certas.
Pensando nisso, reflita sobre como essa lateral da pirâmide está desfalcada ou é ignorada em tempos de mídias sociais e câmeras onipresentes.
Porque este princípio estabelece limites muito firmes, está relacionado à energia do elemento Terra e do planeta Saturno.
Há o momento de falar, mas, com muito mais frequência, nos é exigido de saber ouvir.
Esses seis componentes: Conhecimento, Imaginação, Vontade, Fé, Silêncio e Amor compõem a Pirâmide dos Bruxos. Dominar esses princípios ativam o poder da Pirâmide e suas qualidades vão responder à magia que reside nela. Agora vamos somar a isso o poder da geometria sagrada que é evocado pela forma piramidal.
A pirâmide como exemplo de Geometria sagrada
A Grande Pirâmide de Giza é a estrutura antiga mais substancial do mundo – e a mais misteriosa. Segundo a teoria arqueológica dominante, as três pirâmides do platô de Giza são estruturas funerárias de três reis da quarta dinastia, mas alguns argumentam que não há absolutamente nenhuma evidência que confirme essa ideia. Cobrindo uma área de 53 mil metros quadrados, foi construída com cerca de 2,5 milhões de blocos de calcário pesando em média 2,6 toneladas cada um. A Grande Pirâmide era revestida de calcário muito polido e branco e coroada, segundo a lenda, por uma pirâmide perfeita de pedra negra, provavelmente, ônix. Seus únicos espaços internos conhecidos parecem ser a passagem descendente (a entrada original) e a passagem ascendente, a Grande Galeria, uma gruta misteriosa, uma câmara subterrânea igualmente misteriosa e as duas câmaras principais, chamadas de câmara do Rei e da Rainha.
Há muita discussão sobre se a pirâmide foi ou não de fato construída para servir de tumba, se chegou a ser usada para esse propósito, se os construtores da quarta dinastia egípcia tinham a capacidade de engenharia para erigirem-na e também sobre a idade de facto da pirâmide.
Há algumas evidências de marcas d´água e resíduo de sal que sugeririam que as pirâmides teriam pelo menos doze mil anos e passaram por um cenário de enchente. Seguem alguns fatos curiosos:
- As laterais da pirâmide estão alinhadas quase que com total precisão aos pontos cardeais da Rosa dos Ventos. Esse alinhamento é extraordinário porque a discrepância é de apenas três minutos de arco em qualquer direção.
- A pirâmide de Quéops funcionava como um enorme relógio solar. Sua sombra para o norte e a luz refletida ao sul marcava com exatidão as datas anuais tanto dos solstícios como dos equinócios.
- As dimensões básicas dela incorporam medidas a partir das quais é possível calcular o tamanho e a forma da Terra. É um modelo miniatura em escala do hemisfério, incorporando os graus geográficos de latitude e longitude. As medidas por toda a construção mostram que os construtores conheciam as proporções do π (3,14) ou a proporção áurea (1,618) e os triângulos “pitagóricos” milhares de anos antes de Pitágoras.
- As medidas demonstram que os construtores conheciam o formato preciso esférico e o tamanho do planeta e tinham mapeado com precisão eventos astronômicos complexos como a precessão dos equinócios.
- Os eixos que sobem das duas câmaras principais, primeiro entendidos como sendo para ventilação, mostraram haver um outro propósito possível. Um robô miniatura rastejou mecanicamente pelos 65 metros subindo pelos eixos, e as descobertas sugerem que os eixos norte e sul na câmara do Rei apontam para Al Nitak (Zeta Orionis) e Alpha Draconis, respectivamente, enquanto os do sul e norte da câmara da Rainha apontam para Sirius e Beta Ursa Menor. Os cientistas que conduziram a pesquisa acreditam que a posição das três pirâmides espelham precisamente a posição das três estrelas principais da constelação de Órion.
Aí entramos no terreno da Geometria Sagrada. A Geometria Sagrada é o modelo da Criação e gênese de toda a forma. Em todas as escalas, cada padrão natural de crescimento ou movimento se conforma inevitavelmente a uma ou mais formas geométricas. Os antigos sabiam que esses padrões e códigos eram simbólicos de nossos planos interiores e a estrutura sutil da consciência. E assim, a experiência da geometria sagrada pode ser considerada essencial para a educação da alma.
Formas geométricas na verdade representam os estágios manifestos do “ser”. Observar e trabalhar com unidade e completude na geometria pode ajudar a abolir nossa falsa noção de separação da natureza e uns dos outros. Através da Geometria Sagrada podemos descobrir a proporção inerente, o equilíbrio e a harmonia que existem em todas as situações, toda realidade manifesta e até nas circunstancias do dia a dia.
Ao longo da história, observou-se que o Phi evocava emoção ou sentimentos estéticos em nós. A Proporção Divina foi estudada de perto pelo escultor grego Fídias, e como resultado, levou o nome de Phi. Também chamada de número de ouro, ou sequência de Fibonacci, o Phi pode ser encontrado em todo o universo; desde as espirais das galáxias, às espirais numa concha nautilus; da harmonia musical à beleza artística. Um botânico vai encontrá-la nos padrões de crescimento das flores e plantas, e o zoólogo vai ver a relação na reprodução de coelhos. O entomólogo a observa na genealogia da abelha, enquanto o físico a constata no comportamento da luz e dos átomos. Um analista de Wall Street encontra essa razão nos padrões de alta e queda da bolsa, e o matemático a descobre ao examinar um pentagrama.
A proporção áurea era usada no projeto de construções sagradas na arquitetura antiga para produzir uma energia espiritual que facilitava a conectividade com os planos espirituais pela prece. A Grande Pirâmide é um bom exemplo disso. A altura tem uma razão Phi (proporção áurea) em relação à base. (Em outra época, a milhares de quilômetros, as civilizações antigas do México usaram o Phi ao construir a Pirâmide do Sol em Teotihuacan.
Portanto, a razão áurea funciona como a impressão digital da criação. Quando recriamos essa sequência que existe em constante movimento e expansão, temos na verdade “o movimento exato da da criação no processo expansivo”.
Esse número é um portal intra-dimensional pelo qual a matéria emerge na realidade 3D manifesta. Quando somos banhados por esse Número de Ouro, é inegável que seja uma das experiências mais harmônicas e balanceadas que podemos experimentar.
Isso explica por que pirâmides e semiesferas se encontram entre as formas que têm significado espiritual (como os domos, que estão presentes em tantas edificações religiosas). Essas formas são emissoras de energia, produzem um tipo de onda de transporte penetrante que os radiestesistas franceses Leon De Chamery e Antoine de Belizal chamaram de verde negativo (que age como ondas de rádio, transportando informação). A qualidade vibracional das ondas tipo verde negativo lhe dá fortes propriedades comunicativas, o que facilita a ressonância com planos superiores ao orar.
Pesquisadores nos anos sessenta que construíram modelos miniatura da Grande Pirâmide observaram que a forma piramidal de alguma forma misteriosa mantinha os alimentos preservados sem estragar, afiavam lâminas cegas, induziam plantas a germinar e crescer mais depressa e apressava a cura dos ferimentos animais.
Algumas fontes consultadas: Grimassi, Raven. Encyclopedia of Wicca & Witchcraft Farrar, Janet and Stewart. The Witches' Way Huson, Paul. Mastering Witchcraft. New York: G. P. Putnam's Sons, 1973 ©2007 Eric “Daven” Landrum http://www.spiraloflight.com/ls_sacred.html